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sábado, 12 de janeiro de 2013

O deus do tempo não tem agenda



"Não é chegada a minha hora". Falou o Filho de Deus, desses deuses que se escreve com D maiúsculo, desses que controlam todas as coisas, que requerem todos os louvores e que lançam no fogo do inferno qualquer um que ousar escrever seu nome com iniciais minúsculas.

"Não é chegada a minha hora", falou o divino, como se não tivesse nada a ver com nossas horas, como se essa não fosse a sua terra. Como quando era menino rebelde e disse a josé: "Você não é meu pai" (Lucas 2.41-52), dizendo que a casa dele mesmo era a casa do Pai Celestial.

Falou. E se eu tivesse falado teria levado uma mãozada na boca, pra aprender a respeitar. Sem deixar Jesus falar muito, Maria arrumou as coisas para que Jesus cumprisse sua vontade. Arrumou os serviçais como uma mãe põe o dinheiro do pão sobre a mesa, mesmo após o filho negar o seu pedido de ir comprar os pães do jantar.

O filho de Maria falou e se tivesse persistido teria estragado a festa; acabaria com a alegria humana, por pura birra e sem motivos ou por obsessão Divina de manter a sua imutável agenda.

Nessa hora, Jesus aprendeu a contar as horas nas batidas de seu coração humano. Aprendeu/ensinou que quando a gente ama já não se é dono dos próprios relógios, porque o outro invade-nos com seus tempos, suas agendas; que quando queremos bem a alguém não podemos mais almejar conquistas solitárias. Diante de quem ama, o Deus do tempo perdeu suas horas; apresentou-se como um deus sem horas marcadas, rasgou o calenário e o refez, e dali por diante refaria quantas vezes fossem precisas em prol daqueles que faziam seus olhos brillhar. Ensinou assim que a maior prova de amor é dedicar o próprio tempo, esquecer a agenda, ou não manter outra programação que estar ao lado de quem amamos.

É preciso dizer que em nossos dias o amor se soletra assim: T-E-M-P-O. Com paciência de acompanhar o passo do outro. “Tempo é ternura. Perder tempo é a maior demonstração de afeto. Não economizar esforço, não simplificar, desperdiçar simpatia" — Fabrício Carpinejar. "Na época que privilegia o utilitarismo, só há técnicas de administrar o tempo. Ninguém ensina a parar o relógio na hora de escrever para um amigo, bater papo despreocupadamente ou mesmo verbalizar o carinho" — Pavarine.

O deus do tempo não tem agenda a ser amar. Assim nós também façamos, a fim de que na busca e no corre-corre de a tudo dominar, a tudo tique-taquear, não percamos nossa alma e aqueles que a fazem feliz, nossos amados e amadas.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O homem e o tempo


O homem vil notou que o tempo viu
o espaço que, antes era largo,
passou a ser estreito.
O tempo vil que o homem viu
seu horizonte observável
entrar em colapso.

O homem viu que o tempo vil
era inclemente na sua travessia
rumo a outra margem.
O tempo viu que o homem vil
não desistia de ir em frente,
a pesar das pedras no caminho.

O tempo vil notou que o homem viu
um travesseiro em cada pedra
e o tropeço era motivo para sonhar.
O homem viu que o tempo vil,
que não tem cor nem cheiro,
no espaço, em expansão, é forasteiro.

O homem vil viu que o tempo não é vil,
que uns lhe chamam deus,
outros, ainda, riqueza.
O tempo viu que o homem era insistente
E que a bondade e a misericórdia
também se fizeram estrada.

Wendel Cavalcante
www.estradasou.blogspot.com

sexta-feira, 15 de abril de 2011

PARA TODOS QUE CHORAM

Carta aberta da executiva da Rede FALE sobre as mortes acontecidas na escola Tasso da Silveira em Realengo, Rio de Janeiro.


Chorar é um ato radical, é o clamor da alma. É derramar a mais pura essência do sentimento em gotas cálidas de emoção. Sim, sabemos que alguns choram de alegria, e que elas podem expressar o nascimento de uma criança, porém hoje vertemos lágrimas por pequeninos tiveram suas vidas ceifadas tragicamente.
Não há palavras que traduza o nó na garganta ante a barbárie vivida na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro. É inaceitável pensar na ideia de que crianças sejam alvo de tamanha brutalidade. Porém é mais inaceitável ainda que alguém tenha acesso tão fácil a armas e munição.
A transbordante violência acontecida nesse ato louco é tão somente o sintoma de algo que é visto em proporções menores todos os dias. Pessoas de todas as idades morrem cotidianamente em nossas cidades vitimadas por armas de fogo. Muitas dessas armas letais chegam na mão de qualquer um porque ainda há uma grande circulação delas e falta de fiscalização do estado. É comprovado que a presença delas nos lares faz também aumentar grandemente as chances de acidentes, suicídios e homicídios culposos ou mesmo dolosos, em vez de servir como mecanismo de defesa.
Em 2005 (ano do referendo sobre o desarmamento), a Rede FALE mobilizou-se com a campanha FALE PELO DESARMAMENTO que, entre outras reivindicações, pedia a adoção de medidas rigorosas para o controle da produção, importação, exportação e circulação de armas de fogo e munição em nosso país, fiscalizando-se também, com maior eficiência, as empresas de segurança privada e polícias, a fim de serem coibidos os desvios de armamentos para organizações criminosas e a imprescindível proibição do comércio de armas para a população civil.
Na disputa do referendo sobre o comércio de armas, os vencedores coordenaram a campanha do VOTO contrário ao desarmamento, foram bancados pela indústria de armas e deram a falsa ideia de que votar “Sim” seria o mesmo que favorecer os criminosos. Hoje a maioria dos crimes e assassinatos são praticados com armas provenientes do mercado legal, prova cabal de que tal alegação não passava de sofisma.
A Bíblia afirma que Deus enxugará dos olhos todas as lágrimas. Sim, é verdade... Mas muitas dessas lágrimas poderiam ser evitadas! Até quando instrumentos de morte serão fabricados com a desculpa de trazer segurança? Quantas outras vítimas involuntárias irão tombar para que nossa gente tome consciência do poder destrutivo das armas? Quantos “brasileirinhos e brasileirinhas” ainda terão suas vidas tomadas pelo terror que nos cerca enquanto o estado brasileiro teima em não criar políticas públicas que fortaleçam uma cultura de paz?
A Rede FALE se manifesta em favor da vida. Para todos que também choram conosco diante da violência acontecida em Realengo, nossa mensagem é:
Chorar é um estado de alma, é ser plenamente humano e totalmente divino. É um bem espiritual que Deus nos dá. É a capacidade de sentir numa época onde a lógica é ter peito de pedra e coração de latão. Felizes são os que choram, pois deles é o Reino de um Deus que por meio do seu sangue reconcilia toda a sua criação. Queremos convocar todos vocês que orem junto conosco para que nosso país converta “...suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices”(Isaías 2:4).

Em Cristo, o Príncipe da paz.



Caio  Marçal – Secretário de Mobilização Nacional da Rede FALE
mobilizacao@fale.org.br
www.fale.org.br
Twitter: @redefale
"Fale a favor daqueles que não podem se defender. Proteja os direitos de todos os desamparados. Fale por eles e seja um juiz justo. Proteja os direitos dos pobres e dos necessitados". Provérbios 31: 8 e 9

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

VaRIaÇÃo

 
(Márcio Cardoso)
Às vezes me sinto qual despedida
hiato entre o sim e o talvez
Às vezes me sinto feito saudade
um cheiro de vida e adeus
Às vezes me sinto nublado e frio
ora completo, ora vazio
Sou dias de flores, de sóis, de amores
às vezes somente um nó

Às vezes sou festa, sou dança e canção
ora se cala o meu coração
Mas todas às vezes sem variação
eu sou querido de Deus
Às vezes sou pedra, coluna e rio
ora incerteza, vexame, arrepio
Mas todas às vezes de graça e paixão
eu sou amado de Deus

Eu sou querido de Deus
Eu sou filho de Deus

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vale quanto pesa



É incrível como algumas pessoas criam uma escala para mensurar os erros dos outros.

E minha imaginação ganha asas e casa dois episódios narrados nos Evangelhos: o de Pedro (Jo 18. 17-22), por ter negado a Cristo por três vezes, antes do amanhecer; e o de Judas (Mt 26. 14-25), que vendeu a informação por trinta moedas de prata.

O que pesa mais? Três ou Trinta?

Por mais absurdo que pareça, aqui três tem o mesmo peso de trinta!

Talvez, numa primeira leitura da narrativa  os números não saltem imediatamente diante dos nossos olhos. Pedro nega Jesus por três vezes. Antes é perguntado, por três vezes, se amava o Mestre.

Mas o que torna Pedro e Judas diferentes, uma vez que o peso de três negações é igual ao peso de trinta moedas?

Gostei, certa vez, da explicação de um amigo que disse: "a diferença entre Pedro e Judas reside no fato de Pedro não ter desistido da vida"!

Nosso desafio é olhar para além de nós mesmos sem a tentação de querer bater o martelo do juiz, uma vez que quem podia ter agido com inclemência, chamou Judas de amigo e esperou Pedro na beira da praia com pão e peixe assando na brasa.
 

Abração e beijo no coração!

Wendel Cavalcante
www.estradasou.blogspot.com

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sobre perfumes


Meditando esse dias dias no Evangelho de Jesus Cristo, segundo João, me deparei com um diálogo muito conhecido, entre Jesus e Nicodemos.
Diálogo esse que rendeu, senão, o versículo mais conhecido da Bíblia:
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3. 16).
Quem era Nicodemos?
Um líder do Concílio dos judeus. Também era mestre entre o seu povo. Mas que não foi capaz de transpor a barreira da literalidade de como via o mundo. Prova disso foi o fato de ter ido ao encontro de Jesus na calada da noite.
Talvez por medo do que os outros líderes iriam falar ao seu respeito. Talvez por medo de não mais ser aceito pelos seus colegas depois de saberem que esteve com o Jovem Galileu.
Mas quando fazemos uma leitura atenta dos evangelhos, vemos que não foi exclusividade de Nicodemos fazer uma leitura literal da pessoa e da mensagem de Jesus.
Lembram da mulher samaritana? Pediu logo a "água viva" de Jesus, pois nunca mais queria ter sede (e tão pouco voltar ao trabalho exaustivo de puxar água no poço. Quem já puxou corda numa cacimba para encher potes, tinas e outras vasilhas sabe das dores, calos e cansaço resultantes desse árdua trabalho!!).
No primeiro momento, ela não poderia falar com um judeu (Jesus era judeu). Mas quando ouviu sobre a "água viva" logo se interessou (Jo 4).
Lembram da multidão que queria mais sinais? Jesus multiplicou os pães e peixes e a multidão foi atrás dele para que fizesse outros sinais para que eles pudéssem crer!!! Ainda por cima, "botaram maior boneco"(*) quando Jesus disse: "Eu sou o pão que desceu do céu" (Jo 6. 41).
No capítulo 7 de João, ninguém falava dEle abertamente por causa dos judeus.
E outros tantos. Incentivo que leiam os evangelhos!
Mas o que tem haver falar sobre perfumes?
No capítulo 12 do evangelho segundo João vemos que  Maria, a irmã de Lázaro, derramou um perfume precioso nos pés de Jesus, tendo o aroma sem igual tomado imediatamente toda a casa.
O fato de homens estarem reunidos à mesa não impediu a transposição dessa barreira cultural, ou seja, da literalidade e rigor da tradição, fazendo com que o movimento daquela mulher fosse aceito no meio dos homens, ali reunidos, pelo Filho do Homem (as mulheres não permaneciam nos ambientes onde se encontravam somente homens reunidos).
Nicodemos foi derramar perfume em Jesus quando estava morto, mais uma vez, na calada da noite (Jo 19. 38-39).
Mas graças a Deus, que expressou Seu amor de uma forma indescritível ("tal maneira"), por Suas misericórdias que duram para sempre e sua bondade que Jesus ressuscitou!
E assim, o perfume de Nicodemos pode se resignificar!
E você?
Tem procurado perfumar a vida a sua volta ou guarda o melhor de você para perfumar a morte?

Beijo no coração!


Wendel Cavalcante
www.estradasou.blogspot.com


(*) Botar maior boneco: termo do linguajar cearense que significa fazer confusão, resmungar, murmurar, fazer pirraça.